segunda-feira, 16 de junho de 2008

MEU CASO DE AMOR COM O TEATRO

Ontem fui ao teatro depois de muito tempo “entocada”. Na cidade do Rio de Janeiro ir ao teatro é uma aventura sempre perigosa. Mesmo assim não desisto e guardo meu grau de exigência pra alguma surpresa inesperada. Em alguns raros momentos o teatro carioca me surpreendeu de fato.

Isso aconteceu em datas memoráveis. Mesmo que eu inveje os paulistas com o seu SESC da Consolação, mesmo que eu fareje o teatro de Londrina com boas e surpreendentes aparições, mesmo que eu me surpreenda com o que acontece em Brasília, Goiás e outros lugares inimagináveis, o teatro do Rio de Janeiro continua sendo a velha praga.

Não tenho formação teatral, aprendi no tato. Fui batizada e me tornei amante um belo dia, com o Grupo Galpão e sua mais bela apresentação de todos os tempos: Romeu e Julieta. Depois acompanhei Gabriel Vilela em inúmeras montagens. Era um tempo de festa, pelo menos de seis em seis meses um espetáculo que emocionava. Grandes e talentosos atores sendo descobertos, outros conseguindo espaço digno para a sua arte.

Gabriel saiu de cena e depois dele ficou um vácuo. O grupo Armazém apareceu e começou a abrir novos espaços. Fundição Progresso abrigou várias montagens, juntamente com o SESC de Copacabana, CCBB, Planetário. Carlos Gomes, João Caetano. O teatro estava de volta, mas ainda não era nosso, era de fora.

Conheci Moacyr Chaves em “Bugiaria – o processo de João Cointra” e fiquei encantada. De lá pra cá acompanhei alguns de seus espetáculos, na esperança de viver na minha cidade, um novo tempo de boas montagens. Desisti no caminho, Moacyr errou a mão em vários lugares, não vou citar, sou uma leiga apaixonada.

Ontem decidi dar-lhe uma outra chance e fui assistir “A invenção de Morel” de Bioy Casares. Para minha surpresa, os ingressos eram de sobra, o teatro estava vazio e isto me deixou preocupada. Deixei de assistir a Companhia Peter Brook, mas não havia de ser nada. Uma bela teoria da conspiração acerca do comentário de Bárbara Heliodora me deixaria calma, em condições de visitar a exposição da China e não pensar mais no caso.

O folder, muito bonito, como quase tudo que o CCBB realiza, era uma inspiração à parte. Entrei meia hora antes e consegui ler o texto de Vera Novello, que me adoçou a boca e me deu coragem. Trechos de entrevistas com Bioy Casares, bem como um pequeno resumo de sua trajetória em destaque, davam alguma noção do que nos esperava. O corpo de atores, pra quem freqüenta teatro, dispensa comentários. Fiquei novamente animada.

O esforço descomunal dos atores pra dar ao público a chance de assistir a um bom espetáculo, não passou da primeira página. Mesmo esbanjando talento em cena, havia uma postura excessivamente exasperada. Em determinados momentos eu não sabia se assistia a vários monólogos ou se me contentava com um texto despedaçado. O exagero na maquiagem e nos figurinos diante de tantos apelos cênicos, tornava tudo performático. Pra completar um cenário azul espelhado, com grades dos lados, pareciam querer dizer alguma coisa, mas o texto não era tão óbvio.

Os atores voltam em cena para receber os aplausos. No rosto de cada um você percebe o cansaço e a tristeza com a falta de público, com a falta de entusiasmo. Voltei pra casa abatida e fui ouvir Ronda na voz de Jamelão. Tentarei numa outra data.

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