sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Encontros compossíveis
Uma das metas pra 2010 é ler bastante e voltar a escrever no meu blog. Comecei com Badiou e seu Manifesto pela filosofia, pra ficar em dia com o compromisso.
Ainda contaminada pelas reflexões propostas pelo autor, interrompo a leitura e vou ao cinema. Para além de pura distração, vou em busca do sujeito Lula, filho do Brasil, e encontro uma já esperada versão cinematográfica suspeita e imprecisa.
A reprodução da voz, o dedo que falta, as falas e trocadilhos e outros detalhes previstos, apontam para uma visão unitária e uma estetização do querer que dá ao sujeito um destino finito. Entre o político e o amoroso, a caricatura persiste e a figura humana se perde no reducionismo, no esquecimento, no traço perdido.
Numa foto de 1989 abraço o atual presidente e em tom de brincadeira lhe digo: essa é para os meus netos, enquanto ele se oferece sem saber aonde ia dar isso. A fidelidade ao evento-encontro fala de uma verdade subtraída do saber, de um tempo ainda não vivido.
Saí do cinema e terminei de ler Badiou, que encerra seu manifesto com um gesto platônico: a retoma o Um para sobre ele fundamentar a inconsistência como imprescindível. Fazendo de todas as tentativas de compreensão procedimentos genéricos, que unem o sujeito a alguma verdade não dita. Enquanto os créditos são exibidos Lula discursa, dedicando à sua mãe o diploma de presidente.
A história ainda não foi escrita. O gesto da multiplicidade está em não dar por encerrado o destino. Ainda não sei o que vou dizer aos meus netos, nem sei se os terei um dia. O retrato com Lula e meu encontro com ele são, no entanto, no dizer de Badiou, compossíveis.
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