Recentemente descobri Giordano Bruno (1548-1600) através de um trabalho de levantamento feito por Nuccio Ordine[1], publicado em seu livro “O umbral da sombra”. O pensamento de Giordano apresenta, para a história da filosofia de sua época, uma ruptura radical com todos os moldes canônicos do saber filosófico, bem como o estabelecimento precoce de uma modernidade sobre a qual viríamos a nos debruçar mais tarde.
Um dos capítulos em particular nos chama a atenção para a ruptura que Bruno faz com a linguagem amorosa de sua época, encerrada sobre um mundo de gestos, símbolos, cores, palavras e imagens, como puro entretenimento social, fundado, segundo ele, em moldes pré-fabricados e fórmulas esvaziadas. O que esta forma poética nos oferece é um modelo de conduta pronto a reproduzir gestos e palavras, sem refletir sobre seu conteúdo.
A busca da perfeição no amor é transposta por ele para o amor pelo saber, como uma inexaurível necessidade de possuir aquilo que nunca se pode possuir completamente. A delicada questão da satisfação, que leva à extinção do desejo, é substituída pela busca incessante, capaz de manter a tensão que anima o amante.
O homem heróico, nos diz Bruno, é aquele que vive continuamente no “excesso das contrariedades” tendo a “alma cindida” podendo assim ser capaz de queimar-se nos ardentes desejos. Quem se dispõe a esta aventura amorosa, sabe, desde o início, que o seu amor pelo objeto do desejo jamais se extinguirá. Ao contrário, quanto mais pratica a perseguição, tanto mais ele se inflama, porque se trata de um amor “que mais acende do que pode apagar o desejo.”
A busca do objeto deve assim coincidir com o desejo, só importando o objeto capaz de manter o desejo funcionando. Este objeto, sobre o qual o homem dedica a sua paixão, não poderá completá-lo nem satisfazê-lo completamente, caso contrário, o desejo se extinguirá. O encontro amoroso deverá portanto, garantir tensão, ruptura, para novamente ser capaz de enlaçar.
A caça à sabedoria, como uma busca ardente pelo objeto amado, transforma-se numa viagem solitária, por um caminho espinhoso e deserto. Aquilo que procuramos, não deve estar fora, mas dentro de nós mesmos.
[1] ORDINE, Nuccio. O umbral da sombra. Ed. Perspectiva. São Paulo, 2006.
Um dos capítulos em particular nos chama a atenção para a ruptura que Bruno faz com a linguagem amorosa de sua época, encerrada sobre um mundo de gestos, símbolos, cores, palavras e imagens, como puro entretenimento social, fundado, segundo ele, em moldes pré-fabricados e fórmulas esvaziadas. O que esta forma poética nos oferece é um modelo de conduta pronto a reproduzir gestos e palavras, sem refletir sobre seu conteúdo.
A busca da perfeição no amor é transposta por ele para o amor pelo saber, como uma inexaurível necessidade de possuir aquilo que nunca se pode possuir completamente. A delicada questão da satisfação, que leva à extinção do desejo, é substituída pela busca incessante, capaz de manter a tensão que anima o amante.
O homem heróico, nos diz Bruno, é aquele que vive continuamente no “excesso das contrariedades” tendo a “alma cindida” podendo assim ser capaz de queimar-se nos ardentes desejos. Quem se dispõe a esta aventura amorosa, sabe, desde o início, que o seu amor pelo objeto do desejo jamais se extinguirá. Ao contrário, quanto mais pratica a perseguição, tanto mais ele se inflama, porque se trata de um amor “que mais acende do que pode apagar o desejo.”
A busca do objeto deve assim coincidir com o desejo, só importando o objeto capaz de manter o desejo funcionando. Este objeto, sobre o qual o homem dedica a sua paixão, não poderá completá-lo nem satisfazê-lo completamente, caso contrário, o desejo se extinguirá. O encontro amoroso deverá portanto, garantir tensão, ruptura, para novamente ser capaz de enlaçar.
A caça à sabedoria, como uma busca ardente pelo objeto amado, transforma-se numa viagem solitária, por um caminho espinhoso e deserto. Aquilo que procuramos, não deve estar fora, mas dentro de nós mesmos.
[1] ORDINE, Nuccio. O umbral da sombra. Ed. Perspectiva. São Paulo, 2006.
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