Ainda poder contar com produções recentes de Bergman é um privilégio que a nossa geração não pode dispensar. Ainda assim, SARABAND, o último filme do maior cineasta vivo (2003) não fez parte do circuito carioca de cinemas, o que nos leva a pensar no que há de errado com a arte, em especial o cinema.
Bergman não é um autor fácil, disso nós já sabemos. Sua arte não é apaziguadora, ao contrário, nos desestabiliza e nos inquieta o olhar. Em SARABAND essa inquietação é mais grave, se pensarmos no amadurecimento do autor e na velhice com suas conseqüências reais. A amargura que sofre o personagem, diante das limitações da vida e das frustrações das quais não pode mais escapar, é o que move os 112 minutos de película densa e dura, recheada de uma melancolia poética que nos comove do início ao fim.
Trinta anos após o divórcio, Marianne (Liv Ullmann) decide visitar Johan (Erland Josephson) no isolado mundo que escolheu pra viver os últimos dias de sua vida. O encontro, que a princípio parecia sem proósito, tem conseqüências na vida dos dois, e na vida daqueles que os cercam: filhos e netos.
O que fica mais evidente é o modo distinto como envelheceram. A amargura e a solidão que tomam conta de Johan são do tamanho de uma ferida aberta, para a qual ele já desistiu de encontrar a cura. Marianne, contudo, ainda quer dar algum sentido pra o seu passado, buscando respostas pra coisas que não pôde dar.
Ela não sabe ao certo o que a faz procurá-lo, mas durante o tempo em que está ao seu lado, tenta compreender o que aconteceu a ambos, o que significou ter amado aquele homem, o que significa amar. Johan lhe diz que para que um casamento dê certo, duas coisas precisam existir: uma amizade sólida e uma atração sexual inabalável. E conclui: nós fomos dois grandes amigos.
É como amiga que ela se aproxima da sua vida e tenta participar dos seus dramas pessoais. Conhece seu filho com quem ele tem uma relação conturbada, e cuja recente viuvez o torna definitivamente infeliz. Johan não entende como uma mulher conseguiu amar seu filho, cuja manifestação de afeto a ele dirigida ele considera excessiva e enojante.
Marianne, ao ouvir isso, contem-se para não chorar.
Joahn chora pelo filho, se dá conta da vida triste e inútil que viveu. Uma angústia insuportável lhe acomete a ponto de implorar a Marianne que durma do seu lado. Como pretexto, pede que ela tire a roupa e deitam os dois nus, lado a lado. Ele quer saber quando ela vai embora, mas em nenhum momento lhe pede pra ficar.
Marianne retorna e nos dá notícias de Johan meses depois. Ele agora não pode mais atender ao telefone, prometeu que me escreveria. Nunca escreveu. Voltou ao seu isolamento voluntário.
Mas alguma coisa ela recolheu da experiência de descobrir-se só do lado de um homem que nunca soube amar. Numa visita a uma das filhas que ela tinha com Johan, cuja doença mental a afastava da mãe a cada encontro, ela se surpreende com um olhar. Depois de anos, ela me reconheceu. Pela primeira vez eu pude olhar para a minha filha, é o que ela apreende desse encontro com o homem que, durante toda a sua vida, lhe roubou a esperança de ser olhada.
Bergman não é um autor fácil, disso nós já sabemos. Sua arte não é apaziguadora, ao contrário, nos desestabiliza e nos inquieta o olhar. Em SARABAND essa inquietação é mais grave, se pensarmos no amadurecimento do autor e na velhice com suas conseqüências reais. A amargura que sofre o personagem, diante das limitações da vida e das frustrações das quais não pode mais escapar, é o que move os 112 minutos de película densa e dura, recheada de uma melancolia poética que nos comove do início ao fim.
Trinta anos após o divórcio, Marianne (Liv Ullmann) decide visitar Johan (Erland Josephson) no isolado mundo que escolheu pra viver os últimos dias de sua vida. O encontro, que a princípio parecia sem proósito, tem conseqüências na vida dos dois, e na vida daqueles que os cercam: filhos e netos.
O que fica mais evidente é o modo distinto como envelheceram. A amargura e a solidão que tomam conta de Johan são do tamanho de uma ferida aberta, para a qual ele já desistiu de encontrar a cura. Marianne, contudo, ainda quer dar algum sentido pra o seu passado, buscando respostas pra coisas que não pôde dar.
Ela não sabe ao certo o que a faz procurá-lo, mas durante o tempo em que está ao seu lado, tenta compreender o que aconteceu a ambos, o que significou ter amado aquele homem, o que significa amar. Johan lhe diz que para que um casamento dê certo, duas coisas precisam existir: uma amizade sólida e uma atração sexual inabalável. E conclui: nós fomos dois grandes amigos.
É como amiga que ela se aproxima da sua vida e tenta participar dos seus dramas pessoais. Conhece seu filho com quem ele tem uma relação conturbada, e cuja recente viuvez o torna definitivamente infeliz. Johan não entende como uma mulher conseguiu amar seu filho, cuja manifestação de afeto a ele dirigida ele considera excessiva e enojante.
Marianne, ao ouvir isso, contem-se para não chorar.
Joahn chora pelo filho, se dá conta da vida triste e inútil que viveu. Uma angústia insuportável lhe acomete a ponto de implorar a Marianne que durma do seu lado. Como pretexto, pede que ela tire a roupa e deitam os dois nus, lado a lado. Ele quer saber quando ela vai embora, mas em nenhum momento lhe pede pra ficar.
Marianne retorna e nos dá notícias de Johan meses depois. Ele agora não pode mais atender ao telefone, prometeu que me escreveria. Nunca escreveu. Voltou ao seu isolamento voluntário.
Mas alguma coisa ela recolheu da experiência de descobrir-se só do lado de um homem que nunca soube amar. Numa visita a uma das filhas que ela tinha com Johan, cuja doença mental a afastava da mãe a cada encontro, ela se surpreende com um olhar. Depois de anos, ela me reconheceu. Pela primeira vez eu pude olhar para a minha filha, é o que ela apreende desse encontro com o homem que, durante toda a sua vida, lhe roubou a esperança de ser olhada.
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