domingo, 3 de janeiro de 2010

Um casal tijucano





Hoje me dei de presente o Caim do Saramago, enquanto aguardava o horário para assistir ao filme Praça Saens Peña, encerrando minhas noites de festividades de fim de ano. Sentei-me ao lado de um jovem casal, que trocava impressões acerca da nova empregada enquanto comia pipoca compulsivamente. Sem saber se o que mais me irritava era o barulho da pipoca ou o tom da conversa, tentei mudar de lugar, para descobrir em seguida que cadeiras numeradas era mais um dilema a ser enfrentado. Os donos das cadeiras com seus bilhetes numerados exigiam o lugar marcado.

De volta ao lugar de antes, aguardei silenciosa os trailers e comentários, torcendo para que o balde de pipoca acabasse logo e a última gota de coca-cola encerrasse com mais um típico barulho insuportável. Para minha sorte Chico Diaz em poucos minutos tomou conta da tela, roubando minha atenção com uma hora e meia de um espetáculo impecável. Não só ele, mas todo o elenco e direção me fizeram esquecer a obrigatoriedade de um lugar marcado.

Meu arraigado preconceito tijucano aos poucos deu lugar à um trabalho de convencimento raro, pela preparação de um roteiro limpo, honesto e dedicado. Ser tijucano deixou de ser um defeito grave, mesmo na construção de um personagem corno e aparentemente acovardado. Cujo contraste com o futuro morador da Zona Sul, com belos ares de antenado, não deixa dúvidas para que lado a câmera pretende empreender o seu melhor talhe.

Sem deixar de lado a pesquisa histórica do roteiro e sua conexão com os conflitos atuais, o ponto alto que o filme promove é a entrevista com Aldir Blanc, cujos contornos merecem ser relembrados. O que existe de incomum no bairro, nos revela o célebre compositor tijucano, entre outros citados, é a relação da classe média com o resto da população pobre, cuja convivência é reforçada pelo samba e pelas relações de troca permanente com as tradicionais escolas.

O casal ao meu lado tece seu comentário a la Boris Casoy, assegurando ao término da película que ela não terá mais do que dez cópias. Meu preconceito mudou de bairro, é na Zona Sul que o morador nao pode descer de madrugada pra comer cachorro quente e conversar com favelado. É na Zona Sul que a empregada doméstica se reduz a um bom ou mau negócio. É na Zona Sul que as pessoas perdem a sensibilidade e vão ao cinema somente pra não perder o hábito.

O próximo filme que o casal vai assistir é francês. Durante o trailer ele promete que fará isso por ela, recebendo de volta um beijo de muito obrigado. Espero que da próxima vez eu dê mais sorte e sente do lado de um casal tijucano menos descolado. Enquanto isso, vou dormir com Saramago.

Eliane Martins

2 comentários:

Unknown disse...

elaine martins que o sewnhor possa cada vez mais lhe usar de forma maravilhosa...

Unknown disse...

elaine martins foi umas das cantoras quer mim chamou mais atenção.atravez do seu louvor e do seu vestir,elaine que DEUS lhe ab~ençoe cada vez mais em nomo de jesus...